no desejo nasce tudo
do devir espero nada
na ressaca entristeço-me
lembro do que fui
enojo-me do que sou
beijo a privada, despenco
um em mim jaz morto
vez em quando reage
tentando a vida
sabe-se lá com que intenção
e uma imensa crise alastra-se
acordo-me molhado
acordo exausto
vida sem afã
corpo-moléstia, alma-ruína
quimera, sonho, loucura
afundo-me mais e mais
cotidiano-masmorra, dor
contemplo minhas rugas
toco em minhas cicatrizes
tempo perdido nas vagas tempestuosas da solidão
mão trêmula a tocar o espelho... desgosto!
na migalha simplória satisfação
na fome o eternizar da miséria
o morto sonha
implora por liberdade
o vivo sofre
clama por morte
círculos, ciclos indeléveis
cada minuto, cada segundo
o mistério aumenta
caos sorri avançando na pele
quisera mas não pude
o olhar perde-se
na imensidão
do horizonte
brio partido, língua seca
desço os últimos degraus
limo traiçoeiro
a última queda
o último sopro
enrolo-me no mofo
apago a luz
adentro o mundo do nada
esperando nunca acordar
esperando...
esperando...
agosto 20001
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