segunda-feira, 20 de novembro de 2017


        
         03-05-2011

         Lendas do concreto somem na fuligem. O etéreo, vaga de arroto a peido à fedentina de sovaco sujo a hálito cariado. No sonho agarrava sem jeito pequenos peixes e os depositava de volta no aquário que transborda sem parar. Cada dia mais só. Outrora se masturbava no quintal ouvindo os murmúrios dos vizinhos; tv, ruídos de cama, gatos em combate, uma vaca solitária num quintal minúsculo, pombos que nunca dormem, essa torrente amalgamando-se aos espasmos do ventre e ao tremer das pernas. O solo fértil recebendo milhões de vidas natimortas. Agora lhe resta o silêncio da madrugada quando acorda de pesadelos terríveis e não há outro modo de alcançar o sono a não ser a prece a Onan. Despertar dia-a-dia torna-se um martírio encarar a batalha da caixa metálica transportadora. Sem vitória. Todos iguais. Agora um medo crescente. Como se o próximo passo fosse um presságio mortífero. No solavanco acorda e contempla a menina de olheiras e glúteos perfeitos. Difícil não contemplar a saúde que emana das formas juvenis que  antagonizam com a rotina noturna denunciada em sua cavidade orbital. Surge desconhecida some lembrada; no átomo que é a província talvez ela desapareça. E com bafo de pura mortandade expele conselho aos ouvidos de uma quase-morta. Antagônica. Apostasia. Pesada e inefável a carga da vida trespassa a carcaça relutante. Agulhas passeiam no peito raquítico. Populações espalham-se pelos recônditos do corpo. Ninfas saltitam ao redor do lago artificial. Da caverna suspensa o corpo lateja em voluptuosa contemplação. Das profundezas de estantes repletas ouve um parceiro humilhando o outro. A máquina move-se obediente. O corpo contradiz e persiste. A tarde chega.