quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Sempre recorrente
abrindo portas
sucumbindo através
de janelas

a infância pulsa
maturidade sofre
a maravilha de ser irresponsável
reduzida a mera lembrança

minha vida pesa
um peso sem medida
e não vale nada
nem moeda, nem ilusão

estraçalha, reluta
destrói, castiga
escorre do nariz
desliza da boca

meu verbo
túmulo eficaz
meu corpo
paraíso de vermes

04-12-08

sábado, 6 de dezembro de 2008

Onde repousar a sola dos pés?
onde resguardar a última centelha
de um escrúpulo já falido?

o pior se anuncia
mergulhos cada vez mais profundos
silêncio longo
a cada vez penso vislumbrar
o fundo do poço.

fracasso fracasso fracasso
minha fome entorpece

dou um passo decisivo
cravo em meu peito
o punhal da covardia
repleto de fel

tenho um minúsculo rato morto em minhas mãos
sem podridão
vencido pela vida
ou ceifado pela morte?

imagens e siginificados misturam-se
sou sugado por minha imprudrência
arrepios de um futuro surto
pinicam a pele seca.

1-12-08
Transido
inspiro
dói o peito
fenda expandida

a face
nega o riso
o corpo
engole lixo

ouço
a melodia sinistra
decrépitos
louvando a ruína

espero
o fim da ressaca
lambendo o mofo
aceito o final

1-12-08
Rasgo o passado
outro emerge
pássaro lento, faminto
contempla a carniça

o pranto escorre
dos olhos, da boca
navalha fria
rasgando mais uma vez

contemplo os restos
pedaços meus
lembrança sem sentido
para o abismo, vazio sem fim

culmino solidão
destino irreparável
sempre um peso
difícil, péssimo de aguentar!

18-11-08
Sim, vontade de continuar
todas as imagens
tais quais eternas repetições
cópias mofadas de sim mesmas

sem vontade de ser
ânsia de nunca mais ouvir
desejo de resto de mundo
resquício de sexo podre e álcool

pior é prosseguir
rente à lâmina
sinto o cheiro do meu sangue
já coagulado pelo tempo

rastejar sempre na mesma direeção
não prestar atenção em nada.
é o mundo uma mancha rápida
ou sou um traço inútil?

pior forma de morrer
é estar terrivelmente vivo
não ter coragem para opções sérias
e padecer em meio ao ócio, à miséria.

15-11-08
Quão denso.
cada vez mais sólido.
revolvendo na aquosidade do hábito
envolvido
engolfado num sono de eras.

o sono é encantador
a morte é mais forte
entrego os pontos desde já
todo dia
a foice se aproxima
reduzido a nada
não mais que lembrança
preparo meu esquife...

a longa caminhada
até a cova será simples
sem amigos
sem familiares
féretro de um homem só
contento-me em não entender

03-1o-08
Afundo cada vez a mais.
tudo perdendo a essência, o significado.
sem sabor. sem cheiro. sem cor
a textura,
o sólido dissolve nas mãos.

não me amendontro.

sem dogma.
descartei o fascínio há muito tempo.
sinal fecha.
porta abre.
mulher despenca
suada, extenuada, letárgica.
sinal abre.
porta range.

confio, sou roubado.
esqueço.
passo adiante.
o menino percorre o mundo de corredores
com energia e profunda curiosidade.

retardo o passo.
lavagem despenca do andar de cima.
daqui escuto as fezes mergulhando no pequeno lago da privada.
nada é limbo.
farejo o vício.
só um pouco mais.
não mais que isso.

neste precípicio que é a domesticidade
vou avançando a passos largos.
torno-me uma mancha.
confundo-me com os demais,
porém, nunca desapareço.

a poeira dos livros não desgruda de minhas digitais.
tem dias que parecem benignos.
mas a dor volta.
estripando, mordendo, envenenando.
não consigo deitar,
minhas feridas em carne viva grudam nos lençóis.

um opiáceo.
uma esmola.
ruir.

30-09-08
A melodia incinera
arrepia as rugas.
saudade da poeira.
verbo esgotado

a melhor opção
é o pior caminho.

volto a estaca zero
páginas retornam vazias
acordo numa manhã
do mais puro dissabor

tentativas despencam no abismo
não olho para trás
discórdia interior pulsando
mil e uma derrotas

pária que sou
sigo o fluxo
cumpro o dever
de sinceramente inexistir

30-09-08
Ser basta?
percorrer os caminhos de uma herança
é o que afirma a existência?

tripudio real
lambo pequenas flores
na beira de uma estrada infinda
culmino em desvairio
rompendo grilhões
parindo barras de ouro
de uma prisão inesquecível

línguas criam e festejam venenos
decoram o mundo
com matizes de incredulidade
volúpia e inconstância

sigo os passos de um fantasma
nunca consigo acompanhá-lo
memória vazia
absoluto tédio de sala escura
e livros gritando.

29-09-08
O vício é isto de estar vivo
engolir o que sobrou
lamber a raspa
arrotar uma felicidade inexistente

condicionado e implodido
trancado em sombras
linhas de subterfúgio
jazigo carnal

insistência letalmente apurada
reverberando nas cavidades
esqualidez arfante
fome sanguínea e voraz

o animal não perdoa
o humano disfarça
irresistível contenda
pavoroso final.

29-09-08
Palavras despencam de minha latrina
ressoam debéis
setas lançadas ao vazio.
deixam-me emudecido
quase rancor
quem sabe uma diáspora de si mesmo.

Deslizo na manhã
insensivel ao redor
anestesiado por um tédio incomensurável.
ignoro a luz.
que venha a escuridão fatal
abraçando, ceifando, libertando
inexistência sim
a todo custo!

Agora pior
bem pior do que outrora.
mormaço. lama. doença.
ânsia de clausura.
as peças do quebra-cabeça
repousam em meio ao mofo.
desprezo. solidão. insiginificância.
um dia sólido.
outro mero vapor.

25-07-08
Rompe-se o lacre
o descontrole se faz presente
as cicatrizes nos meus braços
pinicam lembranças,
trazem sensações na carne quase morta.

Quando abro a página é um impulso
mergulho deslumbrado em farpas,
úlcera lenta e destrutiva
que avança incansável.

A realidade não passa de um placebo.
tétrico ruminar de horas.
lembranças sujas pelo desgosto.
um copo atrás do outro,
líquido provendo um desembestar quase libertador.
mas não passa de um momento
reles partícula efêmera
arrebatadora ressaca
eclodindo câncer.

Não há satisfação,
entre uma noite mal dormida
e outra
me resta prosseguir...

24-09-08