O bafo quente da
tarde me deixa meio tonto com uma dor de cabeça enjoada que só deus sabe. Estou
prostrado numa poltrona com um corte que 8 pontos em vertical, meu bichano
dorme entre minhas pernas mas dorme tanto que parece dormir as noites que seus
ancestrais passaram acordados...Ao longe o ranger de máquinas é constante
durante todo o dia, músicas nostálgicas tocam na mercearia ao lado onde tem de
tudo menos o que se precisa...as moscas vão e vem sobre o meu corpo, aranhas
dependuradas num fio tênue entre o telhado e o chão do meu quarto...meu leito
revirado, roupas amassadas e suadas, papéis, revistas, anotações por todos os
cantos e as paredes quase negras e esburacadas de tanta displicência...poluções
noturnas, sexo latente, sedento, sequioso debaixo da cueca...a sombra sobre a
letra, a insegurança, o pensamento esvaziando porem criando expectativas...
A vizinha
festeja o êxtase e espanca vossa filhas como se fosse uma espécie de entrar em
paz consigo mesmo; humilha, cospe na cara das pobres meninas e ergue a saia
mostrando e esfregando o sexo todo aflorado e fétido de tantos prazeres, sim,
ela mostra a vagina aberta toda vermelha pra filhas de 4 e 5 anos de idade, a
buceta sem púbis, raspada, para as criancinhas...os velhos dizem que o mundo tá
perdido, que o diabo vai descer, que não há objetivo, que onde já se viu
tamanha vergonha de uma mulher botar os peitos pra fora na rua...As moscas bailam, lambem meu pênis como se fosse um
deus...
Já é tarde,
melhor dizendo, tardezinha e as moscas numa coreografia incrível formam uma
buceta de insetos e sobem, apertam e descem
sob e sobre a glande arrochada por tantas línguas, tantos pezinhos, a glande
quase explosiva, sobem, apertam e lambe toda a extensão do membro que agora
lateja em convulsões descomunais, um tremor anuncia o gozo, as moscas lambem os
testículos e um pouco mais abaixo, o pênis infla num todo de veias vermelhas e
azuis, as moscas subindo e descendo, estico os dedos, crispo as mãos nos braços
de linho acolchoado da poltrona, ejaculo, esporro, gozo esplêndida e
apoteoticamente, um esguicho mata algumas moscas, outras morrem afogadas e
felizes no meu sêmen...
Já é noite,
aliás, início de noite, fim de tarde, sim: o céu tá vermelho, músicas
apaixonantes tocam ao anoitecer, protestantes passam para o culto louvar a bela
desgraça que o mundo vai se mortificando, já é noite e muitos...é noites e
muito se arrumam, colocam brincos, batons, penteiam cabelos, calçam tênis
último tipo com mil e uma tecnologias e novidades importadas...não sei quantas
famílias prostram-se do aparelho de tv e assistem novelas, todas elas sem
exceção mais tarde cairão em seus leito como se tivessem passado por um
processo de purificação ou informações ou outras baboseiras do tipo...bocejo de
sono, lágrimas vem aos olhos, o frio começa a invadir minha alcova, os
pernilongos atormentam a derme despida e desenrolada da amada...
As moscas nada
incansavelmente envolvidas no sêmen
quase podre, algumas lambem com avidez o que restou sobre minhas coxas...
A vizinha
fornica, copula frente aos olhos fechados, aos ouvidos abertos a fingirem sono,
ficam assombradas, pois contemplam aos vossos infantis globos oculares e tenros
a despudoração da mãe inescrupulosa em deleite inenarrável com as pernas
abertas recebendo o falo calma e prazerosamente, transpira oceanos de suores,
urra como uma cadela no cio e pede que rasgue, que meta mais fundo, avisa aos
berros, aos gemidos que vai gozar...as crianças fecham os olhos sem saber o que
éprazer apenas sabendo com todas as cicatrizes do corpo o que a dor significa,
sim, isso elas sabem com todas as letras e lamentos...
Noite
escaldante, alguns lavam os pratos do jantar, outros limpam o sexo e escovam os
dentes, aos milhares chegam do trabalho rumo às suas casas, livram-se do suor
pegajoso do cotidiano...noite penetrante, mãe de tantas utopias, avó de
utópicos esperançosos, nos bares, nas boates, na beira-mar, nos cabarés, todos
com uma falsa felicidade entre os dentes amarelos, postiços, cariados e
entorpecidos...por eras e eras os mais velhos repete que o mundo é uma merda
mas continuam conversando na calçada destes fim-de-tarde de inverno e fazendo
tricô, é melhor que seja merda, é melhor não seja flor...era de tarde, lembro
do céu assim encarnado parecendo que tá pegando fogo mas tão vermelho que
parecia os lábios vaginas da polaca que tanto amo...
Minha família
toma café, todos sentados no chão num tapete, sim é como no interior, minha mãe
gosta assim embora tenhamos mesa para sentar, chupam o café fazendo um imenso
barulho, mastigam ávidos e esfomeados o cuscuz quente enquanto conversando,
contando as novidades que passaram no dia...
Hoje lembro
não-sei-o-quê...
30-06-1992