03-05-2011
Lendas
do concreto somem na fuligem. O etéreo, vaga de arroto a peido à fedentina de
sovaco sujo a hálito cariado. No sonho agarrava sem jeito pequenos peixes e os
depositava de volta no aquário que transborda sem parar. Cada dia mais só.
Outrora se masturbava no quintal ouvindo os murmúrios dos vizinhos; tv, ruídos
de cama, gatos em combate, uma vaca solitária num quintal minúsculo, pombos que
nunca dormem, essa torrente amalgamando-se aos espasmos do ventre e ao tremer
das pernas. O solo fértil recebendo milhões de vidas natimortas. Agora lhe
resta o silêncio da madrugada quando acorda de pesadelos terríveis e não há
outro modo de alcançar o sono a não ser a prece a Onan. Despertar dia-a-dia
torna-se um martírio encarar a batalha da caixa metálica transportadora. Sem vitória.
Todos iguais. Agora um medo crescente. Como se o próximo passo fosse um
presságio mortífero. No solavanco acorda e contempla a menina de olheiras e
glúteos perfeitos. Difícil não contemplar a saúde que emana das formas juvenis
que antagonizam com a rotina noturna denunciada
em sua cavidade orbital. Surge desconhecida some lembrada; no átomo que é a
província talvez ela desapareça. E com bafo de pura mortandade expele conselho
aos ouvidos de uma quase-morta. Antagônica. Apostasia. Pesada e inefável a
carga da vida trespassa a carcaça relutante. Agulhas passeiam no peito
raquítico. Populações espalham-se pelos recônditos do corpo. Ninfas saltitam ao
redor do lago artificial. Da caverna suspensa o corpo lateja em voluptuosa
contemplação. Das profundezas de estantes repletas ouve um parceiro humilhando
o outro. A máquina move-se obediente. O corpo contradiz e persiste. A tarde
chega.
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