quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O bafo quente da tarde me deixa meio tonto com uma dor de cabeça enjoada que só deus sabe. Estou prostrado numa poltrona com um corte de 8 pontos em vertical, meu bichano dorme entre minhas pernas mas dorme tanto que parece dormir as noites que seus ancestrais passaram acordados...ao longe o ranger das máquinas é constante durante todo o dia, músicas nostálgicas tocam na mercearia ao lado onde tem de tudo menos o que se precisa...as moscas vão e vem sobre o meu corpo, aranhas dependuradas num fio tênue entre o telhado e o chão do meu quarto...meu leito revirado, roupas amassadas e suadas, papéis, revistas, anotações por todos os cantos e as paredes quase negras e esburacadas de tanta displicência...poluções noturnas, sexo latente, sedento, sequioso debaixo da cueca...a sombra sobre a letra, a insegurança, o pensamento esvaziado de futuro porém criando expectativas...
A vizinha festeja o êxtase e espanca vossas filhas como se fosse uma espécie de entrar em paz consigo mesmo; humilha, cospe na cara das pobres meninas e ergue a saia mostrando e esfregando o sexo todo aflorado e fétido de tantos prazeres, sim, ela mostra a vagina aberta toda vermelha para as filhas de 4 e 5 anos de idade, a buceta sem púbis, raspada para as criancinhas...os velhos dizem que o mundo tá perdido, que o diabo vai descer, que não há objetivo, que onde já se viu tamanha vergonha de uma mulher botar os peitos pra fora na rua...as moscas bailam, lambem o meu pênis como se fosse um deus...
Já é tarde, melhor dizendo, tardezinha e as moscas numa coreografia incrível formam uma buceta de insetos e sobem, apertam, e descem sob e sobre a glande arrochada por tantas línguas, tantos pezinhos, a glande quase explosiva, sobem, apertam e descem e lambem toda a extensão do membro que agora lateja em convulsões descomunais, um tremor anuncia o gozo, as moscas lambem os testículos e um pouco mais abaixo, o pênis infla num todo de veias vermelhas e azuis, as moscas subindo e descendo, estico os dedos, os tendões, crispo as mãos no braço de linho acolchoado da poltrona, ejaculo, esporro, gozo esplêndida e apoteoticamente, um esguicho mata algumas moscas outras morrem afogadas e felizes no meu sêmen...
Já é noite, aliás, início de noite, fim de tarde, sim; o céu ta vermelho, músicas apaixonantes tocam ao anoitecer, protestantes passam para o culto louvar a bela desgraça que o mundo aos poucos vai se mortificando, já é noite e muitos...é noite e muitos se arrumam, colocam brincos, batons, penteiam os cabelos, calçam tênis último tipo com mil e uma tecnologias e novidades importadas...não sei quantas famílias prostram-se diante do aparelho de TV e assistem as novelas, todas elas sem exceção, mais tarde cairão em seus leitos como se tivessem passado por um processo de purificação ou informações ou outras baboseiras do tipo...bocejo de sono, lágrimas vem aos olhos, o frio começa invadir minha alva, os pernilongos atormentam a derme despida e desenrolada da amada...
As moscas nadam incansavelmente envolvidas no sêmen quase podre, algumas lambem com avidez o que ainda restou sobre minhas coxas...
A vizinha fornica, copula frente aos olhos fechados, aos ouvidos abertos a fingirem sono, ficam assombradas, pois contemplam aos vossos infantis globos oculares e tenros a despudoração da mãe inescrupulosa em deleite inenarrável com as pernas abertas recebendo o falo calma e prazerosamente, transpira oceano de suores, urra como cadela no cio e pede que rasgue, que meta mais fundo, avisa aos berros, aos gemidos e miados que vai gozar...as crianças fecham os olhos sem saberem o que é prazer apenas sabendo com todas as cicatrizes do corpo o que a dor significa, sim, isso elas sabem com todas as letras e lamentos...
Noite escaldante alguns lavam os pratos do jantar, outros limpam o sexo e escovam os dentes, aos milhares chegam do trabalho rumo a suas casas, livram-se do suor pegajoso do cotidiano...noite penetrante, mãe de tantas utopias, avó de utópicos esperançosos, nos bares, nas boates, na beira-mar, nos cabarés todos com uma falsa felicidade entre os dentes amarelos, postiços, cariados e entorpecidos...por eras e eras os mais velhos repetem que o mundo é uma merda mas continuam conversando na calçada destes fins de tarde de inverno e fazendo tricô, é melhor que seja merda, é melhor que não seja flor...era de tarde, lembro do céu assim encarnado parecendo que ta pegando fogo, mas tão vermelho que parecia os lábios vaginais da polaca que tanto amo...
Minha família toma café, todos sentados no chão num tapete, sim é como no interior, minha mãe gosta assim embora tenhamos cadeira e mesa para sentar, chupam o café fazendo um imenso barulho, mastigam ávidos e esfomeados o cuscuz quente enquanto conversando, contando as novidades que passaram no dia...
Hoje lembro não-sei-o-quê...

30-06-1992

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Pois é.
O presente é pura necro-apologia ao passado
Puro revés.
O tempo em rigor mortis!
Bocas cariadas em ávidas sucções, ávido beijo.
Cacos de disc-laser dilacerando a córnea.
A mídia invadindo a favela injetando megabytes nas cabeças vazias e famintas.
Um dulcíssimo cidadão que se enforcou com fita VHS de seu preferido filme.
O tempo em putrefação.
Esparsos. Diálogos entre as arestas.
O desgosto vestindo a alma e todo o corpo
E destilando o fel ignóbil nas línguas açucaradas em descontentamento.
Loucas ninfas se masturbando com falos de alumínio
Que disparam microchoques em baixa amperagem nas paredes vaginais.
Espelhos quebrados em madrugas escaldantes.
Rostos colados no pára-brisa do ônibus.
Colegiais, lindas colegiais em ataque de epilepsia na sala de aula.
Meninas de rua prenhas cheirando cola. Morrendo e vivendo e matando.
E os professores a por em regresso as mentes virgens dos alunos da alfabetização.
E por um dia as TVs de todo o mundo se calariam por todo um longo e eterno dia
Como se todas as supurentas feridas transmutassem em flores
Mesmo que fossem flores metálicas
Expelindo enxofre pelo ermo da noite.
Imensos e ferozes dobermanns. Dobermanns de dentes de aço inoxidável, olhos de cristal e pêlo de veludo, intestinos de humanos indigentes, orelhas de acrílico, sensores infravermelho
devorando um ciber-humano que ousou ultrapassar os limites e ter sentimentos.
Crianças cantam canções ao longo do anoitecer
Imploram que o volume seja mais alto, que haja mais brincadeiras parecidas com a realidade.
Fio de nylon a enforcar as pontas do dedo,
Taxistas pedófilos encharcados de nicotina
Policiais femininas ostentando machismo com seus cassetetes
...
A necro-apologia segue forjando o futuro
Entre um gole e um gozo
Entre a poeira e a saudade da velha alcova.

12-03-1994
Promessas
Não passam
De pontes imaginárias

Domínios
De uma lei inexistente

Algo do avesso
Algo sem contexto

Sem nexo
Sem sexo
Sem nada

05-02-1992
Resguardo-me na noite
A dor transporta-me
A hipnose eletrônica das noites urbanas
Me faz mergulhar no ócio

Lâminas por todo o corpo
Ferida aberta

Sob o neon
As putas rindo
Da minha cara
Da sua cara

27-08-1993
Outra planície árida e solitária.
Outros gestos invadindo meu âmbito
Vazio
Rigidez
Mundo-brincadeira
Outra estrada onde meus passos
Confundem-se com mãos ávidas por loucura
Outras manhãs
Insensatez
Canções
Percorrer o campo sujo
Sangue
Leito
Outras dores
Fagulha
Olhares submersos
Ódio
Picardia
Rancor
Outros abismos
Confusão...meus olhos...escuridão
Outros rumos
Espinhos
Vácuo
Amarguras.
Quero beber o vinho das tavernas em que os corações
Foram crucificados ao meio-dia na esquina mais próxima

Não quero fumar os cigarros ou o tabaco
Que escondes no bolso de dentro do paletó

Pois já me bastam os caminhos que me foram escondidos
E os amores que foram negados

Quero olhar o horizonte
Ou os bosques que mostras ao longe

Pois já basta a areia das velhas estradas
Que trago nos olhos

03-03-1992

segunda-feira, 13 de abril de 2009

a melodia oblitera o fluxo
espalha-se sinuosa
incinera lembranças
constrói novos rumos

arqueja suspira grita
enverga-se o signo além da forma
o derretimento das sensações
crisálida rompida

face translúcida
cada despedida
um novo enlace
certeza irrevogável

sangue ferro fogo
suor nervos eletricidade
atemporal sinérgico escuridão
luz luxúria solidez

a chama tremula
num estertor fulgurante
a bruma abraça os corpos
útero noturno restaurador

agora o tempo reina
a espera comanda os passos
para superar a intempérie
tudo dilue-se em dádiva.

12-04-09&

quarta-feira, 25 de março de 2009

expressão que trava
língua que perfura
cada recôndito
cada centímetro

outrora intocáveis
agora receptivos
conforto umbilical
lúbrica ascensão

de dentro pra fora
externo visceral
gotas de suor
amálgama incandescente

23-03-09 &
eis que o rio seca
palavra jaz calada
confinada num baú de vísceras
velhos gestos retornam

uma última onda
de pulsante energia
labaredas vermelhas
línguas escarlates

deito no abismo
nada enxergo
estranha solitude
canção triste que se vai

é como se acordasse
de um longo pesadelo
grilhões derretem
escalo o buraco com avidez

não importa
seja luz
seja sombra
verdadeiramente não interessa

cada passo
uma certeza dum novo que dilacera
cada olhar
um vislumbre daquilo que é imutável...

18-03-09 &

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

nunca sinto realmente o que penso sentir mesmo quando há beleza em demasiado nem quando a dor extrapola todos os nervos...ainda asco...a partir de hoje e sabendo que isso não é uma promessa vou controlar o animal que há em mim...que venha toda idiossincrasia e a dormência do gestual civilizado e a hipocrisia fantástica que alimenta os sorrisos amarelos de nosso tétrico passar de dias...será que há uma segunda chance? o corpo despenca em frenesi...tudo demora tanto ao ponto de não parecer demora tal qual um sonho que nunca acaba ramificando-se numa profusão virulenta...olhar o vazio, esquecer o vazio, esquecer o que não cessa de martelar, quem sabe doença e então acordarei e tomarei coragem de dar o grande passo...prefiro embotar todos os sentimentos...foda-se o futuro...que vá a merda o presente...que o passado suma...nem lembrança, nada!
penumbra vermelha que banha o corpo, talvez lascívia quem sabe um descontrole...uma semana inteira de ressacas memoráveis...o falso aponta na esquina...pedras e pedras derretem rumo ao miolo...sigo no tédio, na lentidão mísera, puro resquício, intenção tardia...carros atropelam minha sanidade...de hoje em diante é ir sem olhar para trás, sem esquivar-se dos fatos apenas para sucumbir depois com o peso metafórico da significação...nado no lixo...cuspo pra cima e recebo de volta...é o mofo das estantes, é a insegurança da noite, pesadelos de barriga cheia...
janeiro - 2009

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A alegria repousa escondida, líquida, fumaça sinuosa, pancadas vindos de qualquer lugar, alegria e saudade, o sorriso brinca de entristecer mas ainda a alegria insiste, seja em cortar a unha do pé, quem sabe um dia insalubre numa ressaca transcendental...
gritos repletos de euforia...a alegria de lembrar dos mortos...a epifania da voz rouca...sonhos, sonhos, sonhos...mesmo quando o copo vira e sei que danifica a singeleza do corpo, a palavra efusiva do amigo, a forma esquálida observando silenciosamente, a palavra fluindo, o líquido desce, esquece-se da fome...
e onde repousa as razões das coisas? quem dera um vislumbre, o famoso "insigth" para quebrar o desenrolar contínuo de uma monotonia que não cessa...
um rosto na multidão, uma face distorcida na janela do ônibus, um fantasma vivo que canta solitário, ruínas de uma imaginação falida...
daqui a pouco o último gole, caminhar a esmo, encapsular-se nos bólidos de aço e quem sabe ir pra casa ou qualquer outro lugar...
janeiro 2009