terça-feira, 4 de outubro de 2011

em meio à escuridão do labirinto
fios dourados resplandecem
como a guiar o perdido ao caminho certo

ao tocá-los
tudo se apaga
nova parede surge.
eis que a noite chega com seu manto aliviador
rumo ao leito
duro frio e empoeirado

ouvindo
a estática do rádio
engulo
meus pesadelos!
obnubilado
passo lentos,

a dádiva como se desaparecesse
a chama da dor cavando fundo,

o ápice
mãos vazias

lembrar e ruir
o caos como prêmio
e o que resta?

a lâmina cega
isqueiro vazio,

um eco que beira náusea
imagem refletida ao infinito

na luz mortiça da ressaca
tosse
desolação
a palavra do poeta
repete-se na cabeça

combalido pelo delírio
não sei que rumo tomar

atiçado pela lembrança
que ainda vibra na pele
calo-me
tudo jaz
até que algo perturba a planície
afasta o pó ancestral,

faz do simples
um mundo de miríades fabulosas,

e a vitrine embaçada
acalma

domingo, 7 de agosto de 2011

a chuva desce sonora
e pesada

a memória embalada pelo tango
sucumbe

o leito duro chama
resisto

Iludo-me no intangível
desço
mais um degrau

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

arranco a casca
a pele rosada

revela a cura
retorno à infância

desmonta sem agredir
dói sem magoar,
sangue que não escorre
unha
unha
unha

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

acendo as luzes
um mar de lembranças

mistura-se ao dissabor
do café barato

cada passo
um tropeço

cada unha agredida
um sorriso sem graça!

sexta-feira, 29 de julho de 2011

eis que as portas
se abrem de novo

daqui recebo a migalha
deixo-a
queimando em minhas mãos

depois o gelo
o vácuo
a fossa!

28-07-2011
noite de desencanto
e morosidade reinante

apago a fagulha
como quem rosna
defendendo o pedaço de carne

famélico
entro na masmorra

28-07-2011

terça-feira, 26 de julho de 2011

o passado reverbera
lateja

dente podre maldito
que nunca sara

mesmo extraído
permanece o fantasma da dor pinicando

queimando
matando os dias

quarta-feira, 20 de julho de 2011

saiba que eu não sei
sobre o tal do saber a si mesmo

no desnível singular da
sabedoria da sombra alheia

que foge levando
os segredos

e a paz
agora receber
a dádiva da água gelada

laminando o corpo esquálido
e doentio

para continuar
na masmorra contemplando

ansiando...
o buraco vazio denuncia
o novelo de tripa em meu peito.

a mesa suja agrava
todo desastre de continuar.

os lençóis puídos
acalantam o solitário
uma chaga no peito
alastra-se a dor de existir

custa levantar da velha cama
o frio beija os ossos

amargura infinda
com sorriso estampado

terça-feira, 19 de julho de 2011

agora uma fome que bate na porta
o eco da casa vazia

aumenta a dor

a necessidade
traz mãos trêmulas

no corredor sujo
roendo unhas

sonho!
espera-se uma resposta sempre
a pergunta nunca cala

e se esvai na berlinda dos dias
como se fosse

um fúlgido raio
desbravando a escuridão!
portas abertas
janelas podres

cloacas divinas
bocas-de-lobo

oráculos avessos
portas entreabertas

o miasma vibra diante da vida
corre!
um separa
outro converge

a manopla tenta o carinho
a urtiga ensaia o perfume

no hálito da fome
elabora o sonho

no ranço do suor
o sabor
caio dentro da queda
levanto-me dentro do despencar

e as cordas rasgando
a acústica

fibrilando cada nervo são
e dentro do abismo

espero...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

a chuva e o sol,

o cheiro de mormaço trazendo
a infância ao nariz,

que delícia,
o passado reverbera em cada célula,

o presente açoita!

terça-feira, 12 de julho de 2011

ah,
o coração na mão,
o estômago em frangalhos,

um quarto vazio
que me espera,

um bolso
que nunca enche!

sábado, 9 de julho de 2011

e como sei
o que não deveria saber
sobre aquilo que não deveria sentir
através daquilo
que não era pra fazer!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Imensa página em branco
correnteza insana
abraçando coisas
mínima consequência viva

estrada sinuosa
cavalos mortos
retrospecto sinistro e infeliz
rútila comemoração abobalhada

migalhas ao ouvido
facas na barriga
vermes que transitam céleres
reinam soberbos na cachola avariada

a escolha é fatal
o destino é algo infame
desmontando-se abraça a ruína
no caco do caco renega a vida

pagar por algo sem valor
receber o troco sem motivo
acordar imóvel preso a nada
a memória cruel e incansável.

06-06-2011

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Não passo de um tolo caminhando futilmente pelas ruas
Um homem sem armas num mundo de violência desmesurada.
Todos os dias a morte vem sussurrar em meus ouvidos;
E como me fascina a estupenda variedade de bizarras opções
Não tenho retórica para descrever tamanho arsenal...
Não será a vida uma espécie sub-reptícia de morte?
Sinto que perdi completamente o sentimento de existência
Não sei coexistir
Não consigo transmutar-me em algo compatível com o “mundo”
Melhor seria ser com “espírito de vida” sem vida orgânica
A putrefação me incomoda
Os hormônios me fascinam
A consciência humana me faz sentir nojo.
O intelecto como mentor de toda a bonança e desgraça
As máquinas estão falhando em todos os setores
O mundo está ruindo
Aos poucos perco o último resquício de sentimento
Descendo, caindo, despencando
Para o mais fundo dos abismos mais profundos
E lá, áspero, entregar-me-ei ao fim
Tal qual um ínfero degustarei minhas fezes
O último grau da casta mais inferior.
Meu destino é um roteiro barato...
Irrita-me este instinto animal de valorização à vida
Executem-me de maneira fulminante
Façam-me esquecer deste odor de merda, uréia e suor
Estou no fim
No buraco mais fétido
Na alcova mais imunda
No leito mais empoeirado
Mastigando pedras
Acompanhado de algumas páginas
Tendo que suportar gargalhadas idiotas de seres banais
Iludidos de uma felicidade plástica
Fazendo lembrar-me da amplitude de minha solidão
De como é fatigante permanecer de pé...

21-01-1999
Tela distante, enevoada; abrupta, fugaz, intransponível.
Uma criança de olhos azuis sobe a escada, olha, sorri, vai embora
Um pedaço do mundo, aqui, está calmo!
Brisa...
Barracas desmontadas como velhas peças de um jogo fútil
E todas as imagens voltam com a essência de outrora
ou estou vendo como via e tinha esquecido tal fato...

A névoa silenciosa do anoitecer mergulha lentamente
Transmutando a realidade em deliciosa câmara mortuária
Onde a vida escorre, vibra como uma dádiva enérgica...
Nuvens cinza
Missivas amorosas esquecidas no antigo banco da praça;
Pássaros que retornam ao ninho
Silêncio que se aprofunda...

A musa ri...
A urna hipócrita vibra em cânticos de ignominiosa fé
Fecham-se as portas
A chuva vem e com o ela o frio dardejante
Intempéries revitalizante
Novos ciclos de fascinante desordem

Não mais valorizar pilhérias
Atentar o ser para o sublime
Esquecer, ignorar o ínfimo, louvar a introspecção...
Um andrógino caminha claudicante...
E a vida vai rumando como uma construção e seus tapumes
Barulhos, segredos, estranhas visões
Vida em que sinto-me exterior, longínquo, morto...

16-09-1999