segunda-feira, 25 de outubro de 2010

De que adianta o riso
Se há preocupação
Pra quê o pasto
Se logo após será náusea?

Apolo esconde-se atrás das montanhas
Pã assobia uma melodia fúnebre;
Em meu antro contemplo excretos humanos
O nojo me domina mas não há como evitar

Apenas dou passos pra longe da lucidez
Vou em busca da névoa
Louca ninfa herbácea que relaxa
Drágeas pra suportar, suportar e viver

Lóki sorri de minha amargura
Hela olha-me desejosa;
Já sinto na boca o gosto insalubre da doença
Busco no sono de um leito velho a cura

Mas não adianta porra nenhuma!
Estou cercado
Preso nos tentáculos
Nas ventosas letárgicas do ócio...

02-05-2000
Na minha cabeça um eco
Acima dela hélices velozes que refrescam
Tudo se dissolve em mórbido estranhamento
Outros dias outras noites
Injúria acalorada de mágoa perversa

Quero acreditar na obviedade pura do cotidiano
E cada dia é um novo dia mesmo sendo embolorado...
Cinza-morte, azul-dor, vermelho-insanidade
E atrás de minhas lentes vermelhas
Vejo o mundo como será daqui a alguns anos:
Uma desolação árida de habitantes esquizofrênicos

Na minha cabeça um eco em que se transmuta constantemente
Micro-galáxias que explodem
Surrealismo imperceptível onde perco-me em mutismo
No silêncio das horas tomo meu antídoto para o real
Nunca consigo dormir quando quero
Acordo cedo muito cedo
E na agonia vou como se não fosse a lugar algum

Sei de minha sede
Das vozes que não param em minha cabeça
Sei que esquece uma frase bela
Sei que não sei pra quê tanta coisa
O que nos espera é o vazio

Mais tarde
As hélices irão parar o giro refrescante
Só o escuro
Só o frio
Serão seus companheiros
E amanhã...
É, amanhã não sei...

08-06-2000