sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Não passo de um tolo caminhando futilmente pelas ruas
Um homem sem armas num mundo de violência desmesurada.
Todos os dias a morte vem sussurrar em meus ouvidos;
E como me fascina a estupenda variedade de bizarras opções
Não tenho retórica para descrever tamanho arsenal...
Não será a vida uma espécie sub-reptícia de morte?
Sinto que perdi completamente o sentimento de existência
Não sei coexistir
Não consigo transmutar-me em algo compatível com o “mundo”
Melhor seria ser com “espírito de vida” sem vida orgânica
A putrefação me incomoda
Os hormônios me fascinam
A consciência humana me faz sentir nojo.
O intelecto como mentor de toda a bonança e desgraça
As máquinas estão falhando em todos os setores
O mundo está ruindo
Aos poucos perco o último resquício de sentimento
Descendo, caindo, despencando
Para o mais fundo dos abismos mais profundos
E lá, áspero, entregar-me-ei ao fim
Tal qual um ínfero degustarei minhas fezes
O último grau da casta mais inferior.
Meu destino é um roteiro barato...
Irrita-me este instinto animal de valorização à vida
Executem-me de maneira fulminante
Façam-me esquecer deste odor de merda, uréia e suor
Estou no fim
No buraco mais fétido
Na alcova mais imunda
No leito mais empoeirado
Mastigando pedras
Acompanhado de algumas páginas
Tendo que suportar gargalhadas idiotas de seres banais
Iludidos de uma felicidade plástica
Fazendo lembrar-me da amplitude de minha solidão
De como é fatigante permanecer de pé...

21-01-1999
Tela distante, enevoada; abrupta, fugaz, intransponível.
Uma criança de olhos azuis sobe a escada, olha, sorri, vai embora
Um pedaço do mundo, aqui, está calmo!
Brisa...
Barracas desmontadas como velhas peças de um jogo fútil
E todas as imagens voltam com a essência de outrora
ou estou vendo como via e tinha esquecido tal fato...

A névoa silenciosa do anoitecer mergulha lentamente
Transmutando a realidade em deliciosa câmara mortuária
Onde a vida escorre, vibra como uma dádiva enérgica...
Nuvens cinza
Missivas amorosas esquecidas no antigo banco da praça;
Pássaros que retornam ao ninho
Silêncio que se aprofunda...

A musa ri...
A urna hipócrita vibra em cânticos de ignominiosa fé
Fecham-se as portas
A chuva vem e com o ela o frio dardejante
Intempéries revitalizante
Novos ciclos de fascinante desordem

Não mais valorizar pilhérias
Atentar o ser para o sublime
Esquecer, ignorar o ínfimo, louvar a introspecção...
Um andrógino caminha claudicante...
E a vida vai rumando como uma construção e seus tapumes
Barulhos, segredos, estranhas visões
Vida em que sinto-me exterior, longínquo, morto...

16-09-1999