segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Todo ato benigno
Germina merda
Floresce dor
Estoura as têmporas

Carícia dissimula
Em falsidade exclusivista
Corpo dói
Nojo nasce com força temporã

Bruma nuvens chuva
Ânsia profunda húmus ser húmus
Alma em colapso
Mente em desvario

Tudo mas tudo mesmo
Fora de controle
Dentro de uma loucura
Dentro de insuportável dor

Toda tentativa é falha
O prazer algo inalcançável
Como tudo o mais
Como sempre foi e será

2001






Antigas interrogações se repetem
Como num mantra repetitivo...
Agora agarro a palavra do jeito que dá
Pois a ideia tornou-se escorregadia, fugaz

Não me iludo com, faces risonhas
Lembro-me de máscaras irônicas;
No fardo que é minha senda...
Torno-me frio, distante e indiferente

O pesadelo, o fel de antigos fantasmas, dor...
Uma mão poderosa afunda meu peito
Quase afogado, morto, sei lá, acordo
Coração tonitruante, mudo, amedrontado

Todavia  sei que sou minha ruína
E uma imagem se repete cada dia mais próxima
Lâmina conclusiva, serpente letal, cova escura
Nada fui, nada sou, nada serei...

17/09/1999







Mergulho deslumbrado em farpas,
Úlcera lenta e destrutiva que avança incansável.

A realidade não passa de um placebo.
Tétrico ruminar de horas.
Lembranças sujas pelo desgosto.
Um copo atrás do outro
O líquido provendo um desembestar quase Rompe-se o lacre.
O descontrole se faz presente
As cicatrizes nos meus braços pinicam lembranças,
Trazem sensações na carne quase morta.

Quando abro a página é um impulso libertador.
Mas não passa de um momento
Reles partícula efêmera eclodindo câncer.

Não há satisfação.
Entre uma noite mal dormida e outra
Me resta prosseguir...


24-09-2008
Destino
Ao longe apenas fuligem
E de lembranças vou morrendo
O verbo mais forte que nunca
A nuvem cinza resolve desaparecer
O mofo evapora
Inúmeras razões para a vida
Inúmeros sonhos para esquecer no canto escuro da memória.

O amor é uma ruína desesperada em que me apego
Lembro do rosto da criança branca satisfeita com sua guloseima preferida.
Anzóis em minha face
Meus pulmões não aguentam mais a fumaça sagrada
Leve brisa movimenta grãos de areia na sala
Meus músculos atrofiados não aguentam mais o peso da vida
O sol avança

Minha história é uma veleidade vazia tal qual propaganda barata
Meu coração não suporta mais o pó
Todos os dias adormeço diante da fornicadora de ilusões
A cada grilhão quebrado surgem novos limites
No meu leito um felino bicolor noir dorme, dorme e vive
Uma fêmea passeia pela casa com o útero repleto de vida
Meu fígado já desistiu há tempos

Resta-me a realidade insalubre
Vejo a cicatriz em meu ventre
Tento fugir
Não há escapatória daqui
Beijo com fulgor a vulva peluda da negra
Tento acordar
Minhas vísceras na parede denunciam-me,
Riem estridentemente dentro de minha cabeça

Visto a roupa
Sinto-me preparado pra nada
O meio-dia está por um fio
Lambo meu suor
Solidão
Todos estão eternamente solitários em sua senda
Engulo espinhos
Ofegante tento enunciar minha chegada
Mas é mesmo que nada
O que emito apenas eu ouço

Tudo difícil
Nada mais...

03-08-2004


Acerco-me de tudo
Por que existo
Por que vivo
Mas
Não importa a verdade
Não importa o falso que há
Embora
O que se entende por ser
Seja seguir as regras
E dentro das delimitações destacar-se
Pois é disto que não preciso
Super-ânsia: não!
Super-verbo: não!
Super-teoria: não!
Não basta
Não resolve;
A práxis verdadeira uma quimera utópica...
O ínfimo ainda é e será particular ao “homem”
Neste torvelinho de merda que é a vida
Divirto-me com a fome
Abraço a jornada brutal como musa
Aqueço-me nas gotas que caem
Tento, por fim, viver numa câmara escura
Sem sonho
Sem idílio
Sem prazer
Sem nada...

19-07-2001




domingo, 27 de agosto de 2017

Livre da máquina? Livre de ser máquina?  Minha sombra gargalha, a crisálida é rompida. Frases repetidas. Escuto mas não assimilo. Lento, deslizo na manhã, ainda sono, ainda quase pesadelo. Irreal. Confuso. Xícara vazia. Fones desligados. Ele esperava mas foi esmagado pelo tempo. Todo dia é uma nova ruptura. Em transe desconheço o mundo, regurgito pessoas. Saudade da entorpecedora alegria de atirar para o alto em manhãs ensolaradas. Agora um cochilo resolveria muita coisa; uma breve estadia no vazio do descanso. O mesmo trajeto, signos que se repetem, velocidade lenta, o óbvio gruda na pele. Escarificação. Não tenho força pra expressar as imagens em minha cabeça. Poeira. Claridade excessiva.
Outro dia. Oito horas da manhã de um sábado ensolarado e tórrido. Resquícios de sonhos levitam intocáveis. Desespero suave, daqueles que lhe levam ao limite de maneira simples e calma. Superficial. Minha palavra é uma fuga, a maior das fugas, um esquecimento, um dormir ao relento, seguri o fluxo sem ruminar, uma profundidade estéril, finjo acreditar nas bobagens que ouço, minto quando digo que vejo se nem sei realmente o que vem a ser o ato de ver. Quero o vômito azedo por cima do peito escorrendo até a virilha, quero o lombo sangrando até as nádegas, quero cuspidas na cara, quero que a vulva banhe-me com jato mais forte de uma urina quente e magnanimamente dourada, quero a baba depois de estocar no fundo da garganta, também quero a lágrima, quero gotas de suor do ânus, quero a sola dos pés sujos em minha face, quero o suor da vulva depois de um dia estafante de trabalho, quero peidos, quero o peso do corpo nu sufocando minha face; o buraco da vida, o buraco da merda, quero o há lito acre doce das primeiras horas da manhã, quero a língua sibilante em minha glande ainda suja depois de uma longa noite solitária de masturbação esquizofrenética, quero a mão inteira abraçada pela vulva, e quero as variantes mais nauseabundas que possam surgir. Terrível ir de um lado para o outro, não poder satisfazer, como se os grilhões invisíveis, estivessem atados aos meus calcanhares, pior mesmo é o silêncio dentro da cabeça e aos poucos cochichos tomam forma de uma confusão oral, de uma balbúrdia sonora, uma confusão de uma única voz, variação bizarra de uma única expressão, cada voz é uma parturiente surreal, cada voz uma enxurrada de imagens, questionamentos, ordens, desejos e muita mas muita frustração. E tudo isso zanzando em ruas desertas de um bairro fudido. Ó doce incompetência de estar vivo. Movo a poeira dos livros, levita e cai mais embaixo, tudo não passa de uma sucessão de desencontros, descendo a ladeira, ralando os joelhos, tentando a todo custo parar a queda, mas, nunca para, nunca o conforto se estabelece. Amargo na boca, articulações travadas, cansaço extremo. Tenho uma dádiva nas mãos, pressinto que posso estragar tudo, flashes insanos, passeiam em minha cabeça. Dor de cabeça fina bem atrás do olho direito. Sinto falta de café. Ser inútil, viver inútil, acordar inútil. O erro prevalece, a virtude tomba, a moral não passa de um leproso pedindo esmola na porta de uma igreja, o escrúpulo é enterrado, a boa vontade é uma puta raquítica de 13 anos vendendo sua genitália podre e suja por dez reais. No silêncio da manhã ensolarada refugio-me em meio às estantes, penso que o passado possa me anestesiar, sugar-me desta sinfonia dodecafônica de carros que passam incessantemente. Leve desordem prefigura caos incontrolável. Passei três dias deitado no azulejo branco e frio. Encurralado. Qualquer opção vai dar em merda. Tento mas não consigo, todo mergulho interior revela-se uma frustração sem tamanho, superfície lisa e estéril e impenetrável. Um final de semana sem uma gota de álcool, uma terça-feira iluminada e sem ressaca. Triste muito triste. Buzinas nervosas anunciam o dia. A senhora de cabelos curtos vê o livro antigo e lembra com regozijo e vejo na minha mente obnubilada pelo sono imagens de sua vivência de outrora. Atrasado, hostil, ignorado. Apenas o silêncio, apenas ouvir os barulhos exteriores. Como entender a polifonia estapafúrdia da vida? 
Manhã de luz antiga
Língua cinza e suave
Um corpo que despenca do 12º andar
Corpo que voa em silêncio rumo ao silêncio
Chinelos vazios no chão de madeira
Um casal de felinos siameses me contempla;
A gata lambe as pontas dos meus dedos; pureza
O gato anda sobre o meu peito; partilha
Manhã de ébria saudade...
E deslizo por entre as melodias
Já não estou mais no labirinto
Agora sou o próprio
Não tenho mais lábios sobre os meus olhos
Não tenho mais versos sobre minha alma
Apenas tenho pra cada átomo do meu corpo um imenso limbo;
Uma tempestade de limbos
E resguardo-me  da dor como quem degusta morangos
Sim...
São várias manhãs em que me liquidifico num suco hormonal e salgado...
Manhã de paredes cor de pérola
Voar é deitar-se e não sentir
Porque sentir é estar de pé
Voar é ficar surdo...
Manhã eterna manhã
Até a tarde tornou-se manhã
Como se fosse o mais belo retalho
De um perfeito colchão de retalhos que seca eternamente ao sol
Sem perder a umidade...

25-11-1996



O bafo quente da tarde me deixa meio tonto com uma dor de cabeça enjoada que só deus sabe. Estou prostrado numa poltrona com um corte que 8 pontos em vertical, meu bichano dorme entre minhas pernas mas dorme tanto que parece dormir as noites que seus ancestrais passaram acordados...Ao longe o ranger de máquinas é constante durante todo o dia, músicas nostálgicas tocam na mercearia ao lado onde tem de tudo menos o que se precisa...as moscas vão e vem sobre o meu corpo, aranhas dependuradas num fio tênue entre o telhado e o chão do meu quarto...meu leito revirado, roupas amassadas e suadas, papéis, revistas, anotações por todos os cantos e as paredes quase negras e esburacadas de tanta displicência...poluções noturnas, sexo latente, sedento, sequioso debaixo da cueca...a sombra sobre a letra, a insegurança, o pensamento esvaziando porem criando expectativas...
A vizinha festeja o êxtase e espanca vossa filhas como se fosse uma espécie de entrar em paz consigo mesmo; humilha, cospe na cara das pobres meninas e ergue a saia mostrando e esfregando o sexo todo aflorado e fétido de tantos prazeres, sim, ela mostra a vagina aberta toda vermelha pra filhas de 4 e 5 anos de idade, a buceta sem púbis, raspada, para as criancinhas...os velhos dizem que o mundo tá perdido, que o diabo vai descer, que não há objetivo, que onde já se viu tamanha vergonha de uma mulher botar os peitos pra fora na rua...As moscas  bailam, lambem meu pênis como se fosse um deus...
Já é tarde, melhor dizendo, tardezinha e as moscas numa coreografia incrível formam uma buceta de insetos e sobem, apertam e descem  sob e sobre a glande arrochada por tantas línguas, tantos pezinhos, a glande quase explosiva, sobem, apertam e lambe toda a extensão do membro que agora lateja em convulsões descomunais, um tremor anuncia o gozo, as moscas lambem os testículos e um pouco mais abaixo, o pênis infla num todo de veias vermelhas e azuis, as moscas subindo e descendo, estico os dedos, crispo as mãos nos braços de linho acolchoado da poltrona, ejaculo, esporro, gozo esplêndida e apoteoticamente, um esguicho mata algumas moscas, outras morrem afogadas e felizes no meu sêmen...
Já é noite, aliás, início de noite, fim de tarde, sim: o céu tá vermelho, músicas apaixonantes tocam ao anoitecer, protestantes passam para o culto louvar a bela desgraça que o mundo vai se mortificando, já é noite e muitos...é noites e muito se arrumam, colocam brincos, batons, penteiam cabelos, calçam tênis último tipo com mil e uma tecnologias e novidades importadas...não sei quantas famílias prostram-se do aparelho de tv e assistem novelas, todas elas sem exceção mais tarde cairão em seus leito como se tivessem passado por um processo de purificação ou informações ou outras baboseiras do tipo...bocejo de sono, lágrimas vem aos olhos, o frio começa a invadir minha alcova, os pernilongos atormentam a derme despida e desenrolada da amada...
As moscas nada incansavelmente  envolvidas no sêmen quase podre, algumas lambem com avidez o que restou sobre minhas coxas...
A vizinha fornica, copula frente aos olhos fechados, aos ouvidos abertos a fingirem sono, ficam assombradas, pois contemplam aos vossos infantis globos oculares e tenros a despudoração da mãe inescrupulosa em deleite inenarrável com as pernas abertas recebendo o falo calma e prazerosamente, transpira oceanos de suores, urra como uma cadela no cio e pede que rasgue, que meta mais fundo, avisa aos berros, aos gemidos que vai gozar...as crianças fecham os olhos sem saber o que éprazer apenas sabendo com todas as cicatrizes do corpo o que a dor significa, sim, isso elas sabem com todas as letras e lamentos...
Noite escaldante, alguns lavam os pratos do jantar, outros limpam o sexo e escovam os dentes, aos milhares chegam do trabalho rumo às suas casas, livram-se do suor pegajoso do cotidiano...noite penetrante, mãe de tantas utopias, avó de utópicos esperançosos, nos bares, nas boates, na beira-mar, nos cabarés, todos com uma falsa felicidade entre os dentes amarelos, postiços, cariados e entorpecidos...por eras e eras os mais velhos repete que o mundo é uma merda mas continuam conversando na calçada destes fim-de-tarde de inverno e fazendo tricô, é melhor que seja merda, é melhor não seja flor...era de tarde, lembro do céu assim encarnado parecendo que tá pegando fogo mas tão vermelho que parecia os lábios vaginas da polaca que tanto amo...
Minha família toma café, todos sentados no chão num tapete, sim é como no interior, minha mãe gosta assim embora tenhamos mesa para sentar, chupam o café fazendo um imenso barulho, mastigam ávidos e esfomeados o cuscuz quente enquanto conversando, contando as novidades que passaram no dia...
Hoje lembro não-sei-o-quê...


30-06-1992
Absolutamente cansado continuo minha senda
Olho tudo, convenço-me da inexistência de todos
Através de um punhado de mecanismos imbecis de aprendizado
Cansado da retórica falha e tosca do “homem”...
Se as pedras envelhecem
Se os ciclo se completam;
Nada disso depende da consciência cronológica do homem...

O “tempo hermético” não pode e nem deveria
Ser chamado de “tempo” ou tampouco de “hermético”
O defeito do humano é contaminar a existência
Com os padrões ínferos da “consciência”,
Fazer do pensamento
Que poderia ser uma ponte inestimável valor para a evolução
Fazer do pensar uma engrenagem imperfeita repletas de supostas perfeições

Buscar o inexistente
Patinar na lama
Nas fezes
Eis a pantomima ridícula dos mestres

Cansado da epistemologia pífia dos acadêmicos
Do manuseio de decassílabos
Dos malabarismos dialéticos que dão em nada

Talvez haja um salto na sabedoria do humano
Quando o “homem” se tomar consciência de que é
“Homo” nunca “sapiens...
O “nada existe” por que é simplesmente esta pasmaceira
Que chamam de vida,
Negar o nada é negar a vida...
Tudo e todo coexistem dentro do “nada”(leia-se vida)
O resto é só consequência fútil de tolos pretensiosos

15-12-2000







O passado reverbera nas caixas negras
A canção se espalha
Um amortecimento
Sinto pés caminhando dentro de minha cabeça.

Libertar-se das roupas
Dos pelos.

Engulo a tarde em ânforas de café amargo

Perdido
Dilacerado
Homem sem terra
Sem raiz
Agora
Sem horizonte
Apenas um muro cotidiano e cruel.

Patas liliputianas
Em todo o corpo
Uma loucura
Uma coceira
Um espremer de verrugas
E correr alegre pelo quintal
Após a explosão tão esperada

Uma alegria
Tão parecida com a infância
E depois banhar-se em álcool

Populações debaixo da unha.
Sonhos da virilha...

05-08-2008