domingo, 27 de agosto de 2017


O bafo quente da tarde me deixa meio tonto com uma dor de cabeça enjoada que só deus sabe. Estou prostrado numa poltrona com um corte que 8 pontos em vertical, meu bichano dorme entre minhas pernas mas dorme tanto que parece dormir as noites que seus ancestrais passaram acordados...Ao longe o ranger de máquinas é constante durante todo o dia, músicas nostálgicas tocam na mercearia ao lado onde tem de tudo menos o que se precisa...as moscas vão e vem sobre o meu corpo, aranhas dependuradas num fio tênue entre o telhado e o chão do meu quarto...meu leito revirado, roupas amassadas e suadas, papéis, revistas, anotações por todos os cantos e as paredes quase negras e esburacadas de tanta displicência...poluções noturnas, sexo latente, sedento, sequioso debaixo da cueca...a sombra sobre a letra, a insegurança, o pensamento esvaziando porem criando expectativas...
A vizinha festeja o êxtase e espanca vossa filhas como se fosse uma espécie de entrar em paz consigo mesmo; humilha, cospe na cara das pobres meninas e ergue a saia mostrando e esfregando o sexo todo aflorado e fétido de tantos prazeres, sim, ela mostra a vagina aberta toda vermelha pra filhas de 4 e 5 anos de idade, a buceta sem púbis, raspada, para as criancinhas...os velhos dizem que o mundo tá perdido, que o diabo vai descer, que não há objetivo, que onde já se viu tamanha vergonha de uma mulher botar os peitos pra fora na rua...As moscas  bailam, lambem meu pênis como se fosse um deus...
Já é tarde, melhor dizendo, tardezinha e as moscas numa coreografia incrível formam uma buceta de insetos e sobem, apertam e descem  sob e sobre a glande arrochada por tantas línguas, tantos pezinhos, a glande quase explosiva, sobem, apertam e lambe toda a extensão do membro que agora lateja em convulsões descomunais, um tremor anuncia o gozo, as moscas lambem os testículos e um pouco mais abaixo, o pênis infla num todo de veias vermelhas e azuis, as moscas subindo e descendo, estico os dedos, crispo as mãos nos braços de linho acolchoado da poltrona, ejaculo, esporro, gozo esplêndida e apoteoticamente, um esguicho mata algumas moscas, outras morrem afogadas e felizes no meu sêmen...
Já é noite, aliás, início de noite, fim de tarde, sim: o céu tá vermelho, músicas apaixonantes tocam ao anoitecer, protestantes passam para o culto louvar a bela desgraça que o mundo vai se mortificando, já é noite e muitos...é noites e muito se arrumam, colocam brincos, batons, penteiam cabelos, calçam tênis último tipo com mil e uma tecnologias e novidades importadas...não sei quantas famílias prostram-se do aparelho de tv e assistem novelas, todas elas sem exceção mais tarde cairão em seus leito como se tivessem passado por um processo de purificação ou informações ou outras baboseiras do tipo...bocejo de sono, lágrimas vem aos olhos, o frio começa a invadir minha alcova, os pernilongos atormentam a derme despida e desenrolada da amada...
As moscas nada incansavelmente  envolvidas no sêmen quase podre, algumas lambem com avidez o que restou sobre minhas coxas...
A vizinha fornica, copula frente aos olhos fechados, aos ouvidos abertos a fingirem sono, ficam assombradas, pois contemplam aos vossos infantis globos oculares e tenros a despudoração da mãe inescrupulosa em deleite inenarrável com as pernas abertas recebendo o falo calma e prazerosamente, transpira oceanos de suores, urra como uma cadela no cio e pede que rasgue, que meta mais fundo, avisa aos berros, aos gemidos que vai gozar...as crianças fecham os olhos sem saber o que éprazer apenas sabendo com todas as cicatrizes do corpo o que a dor significa, sim, isso elas sabem com todas as letras e lamentos...
Noite escaldante, alguns lavam os pratos do jantar, outros limpam o sexo e escovam os dentes, aos milhares chegam do trabalho rumo às suas casas, livram-se do suor pegajoso do cotidiano...noite penetrante, mãe de tantas utopias, avó de utópicos esperançosos, nos bares, nas boates, na beira-mar, nos cabarés, todos com uma falsa felicidade entre os dentes amarelos, postiços, cariados e entorpecidos...por eras e eras os mais velhos repete que o mundo é uma merda mas continuam conversando na calçada destes fim-de-tarde de inverno e fazendo tricô, é melhor que seja merda, é melhor não seja flor...era de tarde, lembro do céu assim encarnado parecendo que tá pegando fogo mas tão vermelho que parecia os lábios vaginas da polaca que tanto amo...
Minha família toma café, todos sentados no chão num tapete, sim é como no interior, minha mãe gosta assim embora tenhamos mesa para sentar, chupam o café fazendo um imenso barulho, mastigam ávidos e esfomeados o cuscuz quente enquanto conversando, contando as novidades que passaram no dia...
Hoje lembro não-sei-o-quê...


30-06-1992

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