segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Destino
Ao longe apenas fuligem
E de lembranças vou morrendo
O verbo mais forte que nunca
A nuvem cinza resolve desaparecer
O mofo evapora
Inúmeras razões para a vida
Inúmeros sonhos para esquecer no canto escuro da memória.

O amor é uma ruína desesperada em que me apego
Lembro do rosto da criança branca satisfeita com sua guloseima preferida.
Anzóis em minha face
Meus pulmões não aguentam mais a fumaça sagrada
Leve brisa movimenta grãos de areia na sala
Meus músculos atrofiados não aguentam mais o peso da vida
O sol avança

Minha história é uma veleidade vazia tal qual propaganda barata
Meu coração não suporta mais o pó
Todos os dias adormeço diante da fornicadora de ilusões
A cada grilhão quebrado surgem novos limites
No meu leito um felino bicolor noir dorme, dorme e vive
Uma fêmea passeia pela casa com o útero repleto de vida
Meu fígado já desistiu há tempos

Resta-me a realidade insalubre
Vejo a cicatriz em meu ventre
Tento fugir
Não há escapatória daqui
Beijo com fulgor a vulva peluda da negra
Tento acordar
Minhas vísceras na parede denunciam-me,
Riem estridentemente dentro de minha cabeça

Visto a roupa
Sinto-me preparado pra nada
O meio-dia está por um fio
Lambo meu suor
Solidão
Todos estão eternamente solitários em sua senda
Engulo espinhos
Ofegante tento enunciar minha chegada
Mas é mesmo que nada
O que emito apenas eu ouço

Tudo difícil
Nada mais...

03-08-2004


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