domingo, 27 de agosto de 2017

Manhã de luz antiga
Língua cinza e suave
Um corpo que despenca do 12º andar
Corpo que voa em silêncio rumo ao silêncio
Chinelos vazios no chão de madeira
Um casal de felinos siameses me contempla;
A gata lambe as pontas dos meus dedos; pureza
O gato anda sobre o meu peito; partilha
Manhã de ébria saudade...
E deslizo por entre as melodias
Já não estou mais no labirinto
Agora sou o próprio
Não tenho mais lábios sobre os meus olhos
Não tenho mais versos sobre minha alma
Apenas tenho pra cada átomo do meu corpo um imenso limbo;
Uma tempestade de limbos
E resguardo-me  da dor como quem degusta morangos
Sim...
São várias manhãs em que me liquidifico num suco hormonal e salgado...
Manhã de paredes cor de pérola
Voar é deitar-se e não sentir
Porque sentir é estar de pé
Voar é ficar surdo...
Manhã eterna manhã
Até a tarde tornou-se manhã
Como se fosse o mais belo retalho
De um perfeito colchão de retalhos que seca eternamente ao sol
Sem perder a umidade...

25-11-1996


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