sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Ontem Eu disse que não queria escutar as canções tristes da vida...
Lindo umbigo tatuado...e tuas lágrimas rolaram pela face branca...
Ontem o mundo inteiro era uma canção nostálgica e triste...
Na sexta-feira o mundo era calmo...
No sábado as ruas eram serpentes negras anestesiadas...
Antonin Artaud delirando na tarde de domingo...
E na noite de domingo chorei vendo um filme preto-e-branco...
É deliciosa a sensação de que o cérebro é um misto de uma tela branca virginal
E pura com inúmeros recortes ao redor pairando eternamente...
E já o terceiro inverno que passo entre tuas pernas
Hoje a mão trêmula apalpa as cicatrizes feitas por tuas unhas
Agora manhã de brisa suave e parca luz...
As vísceras se movimentam na manhã de terça-feira ruminando ebriedade...
Amargo...vassouras azuis de cerdas fosforescentes...pássaro engaiolado...
Quem é o meu sofrimento? Quem é o meu olhar? Quem é o meu beijo?
Quem é o meu abraço?
A saudade é um antigo desenho animado em pleno meio-dia...
A perspectiva é um relógio quebrado...
O prazer é uma pirâmide negra de cabeça para baixo...
Ontem-nada, ontem-álcool, ontem-vácuo...
E como se fosse erro vou parar em outros lugares...
Já não posso andar pois grilhões de carne pesam em meus calcanhares,
Estragam a garganta...
Sou invadido por sonhos, pequenos filmes de cores berrantes, surreais
Ontem-penunbra...saudade das pequeninas mãos de Renata...
E sei que sou mero esboço de uma grande obra,
Formidável sombra, opulenta raiz....
Há uma confusão, um redemoinho onde a ressurreição é uma nova morte...
Amanhece tudo cinza e alagado...o silêncio abraça tudo...
Onde estão vocês? Onde está você? O que querem vocês?
As paredes estão nuas, o leito desarrumado, as teias de aranhas perfeitas
Em sua geometria enfeitam o telhado...
Aos poucos a escuridão vai sendo expulsa pela violenta luz solar...
Não queria amar...queria esquecer...
E as músicas da manhã de quinta-feira são nostálgicas, tristes...
Pássaro exausto sobrevoando o oceano infinito...
O vinil gira...
Mas o mundo não se ajusta à minha melodia...

Ano 96

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