As raparigas cantam no crepúsculo
Balançam seus vestidos
Imensas pétalas de pequena na flor
Esgoelam timbres agônicos
As crianças embaladas
Por ébria melodia
Rolam garbosamente
Pelo chão
Abraçando
Rindo
Correndo a planície com cascos de Pã
As raparigas exalam sexo
Doce néctar
Rádios,
Inúmeros rádios fora de sintonia
Numa espécie de chuva imaginária
Banhando a alma
Banhando essas íris podres
A canção das raparigas destroça
A canção podre chamada progresso
Vomita sobre os cacetetes
Erguendo mais uma vez ao volume máximo o timbre-mor
Ao romper dos auto-falantes a telúrica loucura
Orgásticos tornam-se os tons
As crianças, agora, choram
Algumas sorriem muito alto
As raparigas também choram
A canção cessa
Outra se inincia
Numa sucessão de espasmos
O mundo anoitece
A dor costuma ser vagarosa
O imprevisível é a melhor canção
20-06-92
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