sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Ao entardecer os gestos parecem dopados
Todos os buracos do corpo estuprados pelo cansaço
Ao vomitar do crepúsculo o entardecer nos limita a apenas bocejar
E reconhecer que somos animais perecíveis
Ao entardecer os olhos culminando dor, insatisfação, atordoamento...

Ao anoitecer sorrisos mofados
E metáforas coaguladas entre o hálito escalafobético dos eloqüentes
Ao entristecer de tua face Eu a me declarar sensações imprevistas
Novos habitantes escalando palafitas inalcançáveis,
Conturbadas e desérticas de minha alma...
Agora vociferam palavras extintas em meu baú de poesias
Palavras cansativas que quase são a borracha do desapego
A apagar o meu destino já vivido

E já vivido morro cada vez mais
Morro a cada mililitro bebido do vinho chamado vida
E ao longo da madrugada escaldante
O torpor da maturidade chegando, derrubando a porta
Escorraçando a carcaça-infância para o caldeirão de amargo pus do desespero
Quebram-se os espelhos,
As farpas de vidro esgueiram-se por fúnebres jardins de jasmim
Quebram-se as parcas ruínas de minhas parcas vidas
E caminho sonâmbulo, sóbrio no azulejo da madrugada-amada-madrugada

Ao enlouquecer, ao romper dessas passeatas de lodo e sangue
Ao enforcar de pontas de dedos em fios de nylon
Ao percutir do martelo contra a bigorna
As faíscas explodindo como se fossem adagas de suores,banhadas de suores
Suores, suores, suores
E brusca incerteza no quadragésimo-nono andar

16-02-93

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