sexta-feira, 10 de outubro de 2008

No refluxo das hora espanto-me com a contradição das coisas
Como se fossem frágeis janelas de vidro espatifando-se...
No entardecer de minha ruína
Cada farpa de vidro
Uma lâmina tosca de enxada cortando-me os pés...
Sangrar
Regar o chão com a essência vermelha...
Nos vapores da brisa noturna as fadas festejam
Sim!
As fadas pequeninas festejam com
Suas longas madeixas banhadas de sangue
Rasgam as línguas em cálices quebrados
Trocam beijos de sangue e saliva...
Não muito longe daqui
O roçar das línguas é escutado pelos pequenos duendes
Que já sorriem com o roçar das cicatrizes bucais
Não tarda e chegam com presentes para as fadas ensandecidas
As pequeninas louras chupam meus pés cortados
Outras untam minhas pernas
Com a urina celestial de suas vulvas sedentas
O sangue para de jorrar

Num repente cicatriza e nascem novos dedos
Os gnomos vem saltitando
E aos berros anunciam a madrugada
Cada farpa agora
É pluma inigualável
Cada ferida
Flor de ébrio perfume
O crepúsculo esparrama seu manto vermelho
Os galos, os pássaros desferem adagas douradas de som
As pequeninas louras lavam suas madeixas no orvalho
Os duendes entristecem, os gnomos murcham as orelhas
O manto vermelho do Sr. Crepúsculo esfaqueia a madrugada
Faz o dia um ser pulsante
Sigo com novos pés em um velho caminho
A cada buraco sou erguido pelo perfume das fadas
Com os olhos elas abanam o adeus
Como uma estaca em flancos a varar-me
A insônia se vai e adormeço para o dia
Só irei acordar no fluxo, no refluxo das horas, das coisas

Março 93

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