sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Muito difícil lembrar todos os sonhos.
Igualmente difícil lembrar de poemas rasgados.

Você num mastro muito alto, coberta por um manto branco
Eu um pouco acima de Você flutuava de braços abertos
Depois estamos num meio de um tiroteio
alguns homens tiram Você de meus braços, Eu grito que te amo
Você tenta gritar mas um homem branco de arma em punho
Encaixa o cano da arma em tua boca e detona
Mesmo assim em meio ao sangue e os dentes quebrados
Você regurgita o sangue com a frase “eu te amo”.

Difícil mesmo é não sonhar...beijos aqui, vaginas ali...
Queda que aos poucos tornam-se vôos...
Palavras que não entendo porém as sinto...

Negra lânguida, ofídica que abre as pernas,
No meio das pernas algo maravilhoso, suculento;
Ela se masturba, arqueja, arfa insatisfeita, sedenta.
Então chega um rapaz magro, cabelos curtos e a penetra.
A língua da negra baila no ar à procura da outra língua
As estocadas são fortes no corpo magro da serpente de ébano
Ele branco
Ela negra
Um só nó
Um corpo tântrico
Apenas um feixe de energia...

Eu dizia vamos atravessar o Nordeste a pé...
Caminhávamos sob o sol escaldante. Chegando numa casa mandam-me entrar.
Conduzem-me ao um quarto. Lá, pasmo ao encontrar meu Avô octogenário
Cheirando cocaína na unha do polegar direito...

Às vezes não queria sonhar.
Não queria pra esquecer a névoa, a bruma mágica do sonho.
Há uma coisa que me irrita nos sonhos.
Não há música.
Apenas uma nostalgia que envolve tudo.

17 abril 96

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