sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Fadiga...os minutos correm como minúsculos dardos venenosos,
As horas passeiam lentamente como foices sem gume na vegetação...
Fome...a mente grita, o corpo reluta pedindo ocaso, eterna indecisão...
Os outdoors dizem: colecione, empilhe, forneça, seja o mundo, ressuscite,
Construa estátuas, eternize-se...
As músicas na manhã de sexta-feira são lentas, densas...
Não sei porque há tanta vida nessa carcaça...
Os flancos explodem de dor...
Cada palavra é um eterno retorno....
Cada “noite perdida” é um encontro com o que resta da essência-vida
Que em mim reside...
Não há desespero,
Apenas fleuma intransponível que agride e quebra todos espelhos.
Quando começo o vômito, não quero mais parar
Enquanto houver vazio branco frente aos meus olhos...
E num murmúrio as palavras da grande amiga-irmã tornaram-se banais
Como se fossem anúncios de televisão; os gestos não foram suaves
Não havia mais a fada que conheci. Tenho medo que seja a última vez que a vejo...revista velha, mofada no meio da sala limpa...
Na madrugada de hoje não sonhei; o sono foi um manto negro e inerte...
As foices brandiam ferozes no ar mas nada eram contra o poder das rajadas...
Mais uma vez o sangue banha a terra...ontem tudo foi frustração...
Não há sombras, tudo é horrível luz varando as pupilas...
Não permito o silêncio em nenhum dos vãos da alcova...não aceito o vazio,
Tem que haver alguma coisa, algum resquício; sempre patchwork incontrolável
Nunca página em branco...
As antigas canções arrepiam todo o corpo suado, trazem lágrimas aos olhos
Me fazem descontrolado na manhã nublada de abril...
O perdão é um tanque passeando nas ruas de Sarajevo...
Vagaroso, tortuoso, escorregadio, eis o mundo como o fizeram...
Até que ponto vale viver?
Sou mais um corpo suado sob o sol Nordeste...cacto ressecado...
Etíope espécime entre as paredes repletas de néon da cidade...desespero...
Fácil é lutar e não ser feliz...
Quase tudo em minha casa é distante, estranho, infeliz...
Não sei onde por as mãos e as palavras...
O paladar tornou-se obsoleto
Pois as coisas que me rodeiam não possuem mais sabor algum...
Lampejos...vozes...cacos
O querer já não é desejo mas mero ato enfadonho; louvor à ruína.

19 abril 96

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