sexta-feira, 4 de junho de 2010

Fadiga...os minutos correm como minúsculos dardos venenosos,
As horas passam lentamente com foices sem gume na densa vegetação...
Fome...a mente grita, o corpo reluta pedindo ocaso, indecisão eterna...
Os outdoors dizem: colecione, empilhe, forneça, seja do mundo
Ressuscite, construa estátuas, eternize-se...
As músicas na manhã de sexta-feira são lentas, densas...
Não sei por que há tanta vida nesta carcaça...os flancos explodem em dor...
Cada palavra um eterno retorno...
Cada “noite perdida” é um encontro com o que resta
Da essência-vida que em mim reside...
Não há desespero, apenas fleuma intransponível que agride
E quebra todos os espelhos.
Quando começo o vômito, não quero mais parar
Enquanto houver vazio branco frente aos meus olhos...
E num murmúrio as palavras da grande amiga-irmã tornaram-se banais
Como se fossem anúncios de televisão; os gestos não forma suaves,
Não havia mais a fada que conheci.
Tenho medo que seja a última vez que à vejo...
Revista velha, mofada no meio da sala limpa...
Na madrugada de hoje não sonhei; o sono foi um manto negro e inerte...
As foices brandiam ferozes no ar mas nada eram contra o poder das rajadas...mais uma vez o sangue banha a terra...ontem tudo foi frustração...
Não há sombras, tudo é horrível luz varando as pupilas...
Não permito o silêncio em nenhum dos vãos da alcova, não aceito o vazio,
Tem que haver alguma coisa, algum resquício;
Sempre patchwork incontrolável, nunca página em branco...
As antigas canções arrepiam todo o corpo, trazem lágrimas aos olhos
Me fazem descontrolado na manhã nublada de abril....
O perdão é um tanque passeando nas ruas de Sarajevo...
Vagaroso, tortuoso, escorregadio, eis o mundo como o fizeram...
Até que ponto vale viver? Sou mais um corpo suado sob o sol do Nordeste.
Cacto ressecado...etíope espécime entre paredes repletas de neon da cidade.
Desespero...fácil é lutar e não ser feliz...
Quase tudo em minha casa é distante, estranho e infeliz...
Não sei onde por as mãos e as palavras...
O paladar tornou-se obsoleto pois as coisas que rodeiam não possuem mais sabor algum...lampejo...vozes...cacos..
O querer já não é desejo mas mero ato enfadonho; louvor à ruína.

19-abril-1996

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