sexta-feira, 4 de junho de 2010

A sala jaz em silêncio...migalhas pelo chão...
A televisão é um deus morto e manipulador...
A velhice é o cheiro acre e doce de meus avós...
A morte ronda o meu corpo...
A dor é um carro preto e branco pela madrugada...
Não há mais silêncio, existem moscas copulando no chão sujo...
Na noite de ontem retornei pra casa por outro caminho
Não quis mais o mesmo labirinto, resolvi criar novas fugas, novos rumos...
A dor quer algemar a todos...as motos-serra zumbem pela manhã
Aqui não há mais energia...
As paredes, os livros, os retratos, as colagens
Dizem em uníssono que não nasci para possuir, apenas nasci para contemplar...
Ontem em louvor ao invisível copos repletos de cerveja voaram banhando a todos e depois espatifaram-se contra o solo de mármore...
Não quero escutar o burburinho...não quero ver as feridas ambulantes que são as pessoas...
Aos poucos sou invadindo pela luz, pela felicidade;
Belos sorrisos numa tarde de sábado...
Queria não mais sentir a felicidade porque ela é muito rápida...
Bolhas de sabão na noite...pia entupida de vômito amarelo
Sem perceber saio de casa...não mereço o que tenho...
Pressa e inconstância são os elementos que moram em meu coração...
Meus olhos recusam-se em contemplar a claridade.
Minhas mãos não desejam tocar em pele alguma
E no meu peito arde um redemoinho de dor, desejo e expectativa
Não sei que estradas me esperam mas sei para onde vou...
A cada biscoito mastigado o tédio lapida-se...a sala já não é silêncio...
E você parece uma partícula de filme noir...
Divago, cochilo, por alguns segundos...
Minha Bisavó repousa alegre aos 87 anos no antigo retrato...
O langor das tarde de verão me abraça...nos outros lares os deuses estão ligados...aqui é como se a escuridão engolisse o dia dentro do próprio dia.
Meu corpo é uma lesma letárgica...teu sorriso algo lisérgico
Sinto-me mera mancha em teu corpo...
Sou sono, sonho e quase vida...

Março 1996

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