quinta-feira, 27 de maio de 2010

Córregos, planícies, esverdejantes, montanhas...vacilos...pedaços que tento reconstruir antes que o esquecimento abocanhe...olhos tristes da cachorra parida...pego em mãos e corro, corro pra cima da montanha, chegando ao topo fico triste por não haver solidão, por ter pessoas...facão descendo na face desprotegida, retalha, corta mutila, esmaga...a mulher sem rosto salta para a morte mas ela voa, voa, as cicatrizes doem e sangram, ameaçam sorrisos os lábios retalhados...corro atrás dela, despenco no vazio e quase não paro de cair...córregos amarelo aqui, cinza ali, e a dama de cara-cicatriz-sangrenta tira as roupas, mergulha nas águas multicores do córrego, as roupas viram água, a água transmuta-se numa aquarela caótica de matizes foscos e agressivos...caleidoscópio...pipas de pele humana e linhas de fio de cabelo...bocas movendo-se muito rápido sem som...olhares oblíquos...do córrego avisto a montanha onde não há solidão, onde só há lâminas...agora o esquecimento reconstrói-se e reina absoluto...tento lembrar-me mas não consigo...sucessões repetitivas de slides numa sala com 45 laminas fluorescentes...os cheiros não trazem nada...imensos vergalhões, tábuas que se multiplicavam...arrotos...já é outro plano ou outro reino; anzóis nas orelhas...o regurgitar é lento e requer muita calma...meu Avô chorava pedindo morte sentando à beira do córrego que agora as águas eram azuis...inúmeras páginas em branco tomando o cenário, construindo um imenso nada...foi-me negada a extinção da sede...fui agraciado com o nascer de esparsos...totens rumo ao céu...

01-03-1995c

Nenhum comentário: